20/03/2011

GATO FOTOGÉNICO

Vinte de Março.
Céu azul. Sol estupidamente radiante.
Os montes estavam claros, salpicados de branco aqui e ali, deixando adivinhar-se a brancura da neve que os cobriu por completo no início da semana. Uma lubrina cobre-os como um manto azulado de ternura.
O mar ondula meigamente, beijando de salpicos as negras rochas do Lido.
Duas rubras rosas desnudam-se ao sol primaveril.
Logo abaixo do passeio largo, na curta plataforma, toalhas e corpos esfomeados de calor estendem-se como lagartixas, ao sol prometedor de novos dias.
Caminho. Estou no meu passeio matinal, como se fosse apenas mais um dia, mais uma caminhada, mais um curto momento em que bebo a brisa fresca do mar, procurando energias renovadas. Os gatos espreguiçam-se ao sol, sobre os bancos de madeira , ou nos canteiros das roseiras,  despreocupados de quem passa, despreocupados do provir. Completamente alheios aos PEC’s socráticos. Vivem apenas. Isso lhes basta, como diz o poema:

 
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.


Lembrei-me de Pessoa.
Invejei os gatos. Confesso!
Num dos recantos do jardim, um gato despreocupado com as regras de etiqueta espreguiçou-se longamente. A pachorra com que o fez lembrou-me um comboio sem pressas de chegar. Aproximei-me e tirei-lhe uma foto. A sua patinha dianteira elevou-se numa atitude muito fashion. Ele deixou-se ficar, senhor do jardim e do tempo.
A pressa destina-se à loucura humana. Quem tem razão tem loucura. O gato apenas vive e é feliz.
A manhã cresceu com o sol que era mais quente e azulava o céu, prateando o mar que se estendia de mastros além do alcance do olhar.
O dia estava belo. Havia que o viver.

1 comentário:

  1. own, é de se invejar a vida de um gatinho nessas horas. adorei a crônica :}
    bjs, Indy.

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