15/12/2010

E tantos meninos

Domingo azul e sol a brilhar. A cidade ainda mal acordou.
No Largo do Colégio aglomeram-se, sobre a enorme praça de calçada portuguesa, alguns carros ainda sonolentos e molengões. As crianças saltitam de contentamento, levanto algo num pequeno saco, embrulhado em tecido ou em papel.
Sobem as escadas de cantaria rija e correndo a mão sobre o corrimão de ferro, parecem impacientes.
As portas do templo estão abertas, e um aroma a cântico chão volatiliza-se no azulado céu da manhã. Lá dentro as talhas resplandecem de brilho e o órgão entoa uma litânia própria do dormindo de alegria, em pleno Advento.
Olho e reconheço a quantidade de pequenos sacos. São meninos Jesus para serem abençoados.
Elevo os olhos e no tecto da capela encontro um número romano XIM com uma palama verde por cima, como um traço (onze mil), depois desço os olhos pela parede frontal e leio o que está sob o brasão de armas, em azulejos. Fico a saber que é a capela das onze mil virgens. A missa começa. Acompanho o canto, mas aquele número fica a britar-me o cérebro.
Onze mil!
Acabada a homilia o sacerdote pede que se erguem as imagens para serem abençoadas.
E tantos meninos!... Pasmo comigo mesmo.
Fico a pensar se aqueles meninos não representam os que nunca o chegaram a ser?!
Fico a pensar se o número do tecto da capela não é o número desses meninos. Entristeço! Mas os meninos Jesus estão sorridentes e os seus bracitos cheios de esperança erguem-se como duas árvores para nos receber.
Lá fora o sol está mais quente e subido no azul da manhã.
O sino toca, com autoridade, no alto campanário.
 E uma recordação ocupa o meu pensamento.

1 comentário:

  1. E uma recordação ocupa o meu pensamento.
    também sou um daqueles meninos
    todos os meninos jesus da terra
    rezando, rezando, para que aja paz, e não a guerra...
    abraço amigo! tere.

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