14/07/2010

Solidão Apenas

O banco solitário de sombra ergue-se sobre a espera das quatro pernas nervosas de ferro fundido. Branca, a luz espalha-se nas moribundas e outonais folhas, pelo chão, afagando com ternura o musgo húmido. Nas costas do assento um raio apunhala o verde escurecido do tempo.
À direita, num triângulo escurecido, negro e áspero, sobem esguios bambus para o alto, em demanda da luz, num atrito faiscante de beleza e elegância.
Ao fundo os troncos molhados refrescam o espaço de aquosa serenidade, onde as ervinhas rasteiras, como lavadeiras esfregam as fraldas dos seus tenros rebentos na cantante água que corre no estreito riacho. Róseas flores espreitam da sombra larga e copada dos pinheiros, onde um breve odor a jasmins e pinho percorre de alfazema a paisagem.
Ali. No meio. Só. O banco está solitário da vida pululante em redor. Metáfora de Nobre, ou aguarela de Cesário, ou de outro poeta, esperando a amada que não chegou, não chega e não chegará. O banco no centro é uma espera vã da feminina cor que a luz não traz, e se estende, desmaiada, pela relva da manhã.
O silêncio da mata sussurra uma melodia distante de rebentos primaveris e de pássaros coloridos, sombras de um desejo por cumprir. Nas sombras da manhã os tambores tocam distantes; As flautas pastoris, os clarinetes, os trompetes juntam-se numa sinfonia de sombra que escorrega entre as mãos úmbrias da memória e atira-se em prece à luz que escorre do do alto.
O banco escuta, mas não ouve as vozes canoras que cada planta entoa a cada manhã. E a solidão enche a paisagem, onde um homem, lentamente, arrasta a memória dos passos.
Memória de outras florestas no seu olhar azul embaciado de água e saudade, que o levam à África amada de sofrimento.
Ele chegou ao jardim, abraçou a solidão do banco, e lavou-a no pulsante gotejar do repuxo do lago.

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6 comentários:

  1. Boa noite
    Um texto curiosos cheio de metáforas.
    Sequência de labirintos criados parece que não se leu correctamente e assim andei perdido por entre as palavras escritas.

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  2. Linda e profunda crônica.
    Consegues levar em teus escritos os olhares que te leem e nessa magia tão bem discorrida, a gente vive.
    Lindo texto!

    parabéns!

    Jordas,
    É na fotografia que não se revela
    que está contida magias e encantos
    que se mostram apenas nos sentidos...

    Tem um selinho pra você em meu
    recanto.
    Obrigado pela sua presença amiga...

    Bjs

    Livinha

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  3. Nossa que musica linda...
    Que vontade de chorar... de voltar a ser criança de por aqui versejar...
    maravilhoso...

    Bjs

    livinha

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  4. Bem escrito, meu caro. O sinal indelével da estética literária.

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  5. Jordas,
    Quanto ao selinho, baste que salve ele em teu computador clicando no endereço que lá deixei acima de minha postagem.
    Depois utilize o mesmo procedimento com que você colocou o quadrinho blogosfera em seu blog.
    Boa sorte. Espero que dê certo.

    Obrigado pelo carinho.
    Bjs

    Livinha

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  6. Lindo, lindo, lindo!!!!
    Deus te abençõe sempre!
    Beijos, querido!
    Tudo de bom!

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