Uma borboleta numa tarde de outono
O céu azul descrevia um arco dourado pelo sol zenital de um dia de
Novembro. A brisa coloria-se de rubras flores e uma esvoaçante borboleta
monarca saltitava de pétala em pétala, como se o dia fosse longo e a pressa,
uma palavra fora do seu dicionário.
As manhãs de páscoa, que florescem no Outono, ou
melhor cujas flores despertam para as cores no final do ano, estavam lá, esguias
como o desejo de novas tardes de sol, e, nos seus ramos, como candelabros
abertos ao poiso dos insetos, as folhas abriam-se como dedos de uma mão
suplicante. A borboleta pousou, lançou o seu ferrão e sugou. Sugou o néctar,
enquanto as suas asas, nervosas, adejavam levemente entre o colorido alaranjado
e as pintas negras, como leme de avião, buscando novos voos e aromas de outros
lugares. A tarde crescia, leve e despreocupada das horas. E ela ali saltitando de candelabro em candelabro, como se cada um daqueles fosse um país distante do outro. Agora descrevia uma parábola, depois uma curva apertada e finalmente aterrava, ágil e feminina, no centro da coroa mais elevada de cor da incuidada planta.
O mundo girava todo ali, e, sobre o seu eixo a terra rodava, tudo o que parecia parado agitava-se no balanço do voo simples da mariposa.
Uma nuvem avançava como uma ameaça sobre o azul celeste e coloriu o quadro dum cinzento sombra.
Ela percebeu a mensagem.
Levantou voo, rápido e zizagueado, por sobre as videiras envelhecidas de outonais folhas e desapareceu nas encurtadas horas da tarde. Restou-me segui-la na criatividade do seu adejar e na memória fugaz daquele um momento. Nunca saberei o seu destino, mas naquele momento saboreei a cor da vida e bebi a ambrósia da cor de uma tarde de outono.
Que interessa se ela se juntou à memória de tantas monarcas à procura dum mundo melhor, de um pousio mais colorido?
A beleza da tarde pode conter-se na cor dum voo despreocupado. Tudo o resto é resto e os restos a ninguém interessam.
Eu gostei muito desse texto de fim de tarde.
ResponderEliminarTem o aroma das folhas alaranjadas.
Venho desejar-lhe um Feliz Ano Novo.
ResponderEliminarQue para o ano nos possamos visitar
mais é outro desejo.
Bj.
Irene Alves